Páginas

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A MÃE DE TODAS AS UNIVERSIDADES


O ano de 1088 é amplamente aceito como a data em que a Universidade de Bolonha na Itália surgiu como instituição independente do controle eclesiástico. A universidade é uma das primeiras no mundo, e a mais antiga da Europa Ocidental.
Um dos primeiros estudiosos de Bolonha de que se tem registro é Irnério, fundador da Escola de Jurisprudência em algum momento entre 1084 a 1088. Irnério foi professor da universidade e especializou-se no código jurídico romano, o Corpo Juris  Civillis, estabelecido entre 529 e 534 por ordem do imperador bizantino  Justiniano I e então redescoberto no século XI. O trabalho de Irnério culminou com o seu resumo das leis de Justiniano, o Summa Codici, importante estágio do desenvolvimento cultural da sociedade européia que  estabeleceu as bases de um sistema de leis escritas, sistemáticas e racionais.
A universidade conquistou a reputação de centro de excelência nas áreas da ciência e das humanidades. Em troca de seu trabalho de codificação das leis romanas, e vinculando sua autoridade à do sacro imperador romano, a instituição recebeu em 1158 do Imperador Frederico I Barbarrossa uma declaração que reconhecia seu status como lugar de aprendizado e pesquisa capaz de se desenvolver independentemente de pressões externas. A universidade era particularmente liberal para a época. Diz-se que uma mulher, Bettisia Gozzandini, estudou ali no final do século XI. Segundo os boatos ela teria depois lecionado na universidade e dado palestras diante de grandes grupos.
Após um período de declínio durante o século XIX, a universidade foi homenageada em 1988 quando representantes da comunidade acadêmica do mundo inteiro celebraram o status de Bolonha com a mãe de todas as universidades.

Fonte: livro - 1001 dias que abalaram o mundo - Edição geral Peter Furtado

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Vício


Vício do cheiro, do carinho daquela mão marcada pelo tempo,
vício da sua história.
Vício pelo sorriso do menino.
Imagem: Cristina Cenciarelli  - Boipeba - Ba
Vício das conversas.
Vicio em contemplar a beleza das minhas meninas.
Vício do meu quarto.
Vício dos livros.
Vício do som da voz de quem já partiu.
Vícios bons... 
Vícios ruins...
Vício dos rostos cansados... sinal do tempo.
Vício das gargalhadas de tantos... tantas...
Vício do prazer de ter, sentir.
Vício pela vida.
Meu vício.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Mãos



By Cristina Cenciarelli
Mãos narram o tempo. Mãos grandes, mãos pequenas, mãos ásperas, mãos macias. Mãos de mãe – ensinam a seguir a vida, são as mãos mais desejosas de se tocar. Mãos do amado, amante, carinhosas, e quando ágeis, nos leva ao frenesi insano. Quanto mais velhas, mais lindas se tornam, contam história. Bem disse Quintana: Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza que se chama simplesmente vida.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Não tive, terei...

 Joseneide Montenegro


Quando vê o tempo passou.
A busca atropela o tempo!
O tempo é pouco à busca alucinada.
Cheguei,
A busca é outra.
Quando se vê o tempo passou... O tempo de Quintana...
É, Devia ter arriscado mais... ter visto o Sol nascer ...
Titãs, não quero esse epitáfio.
Não quero,
 mas como desviar?  Não paro...
Meu filho, um homem, como?
Infância?
Adolescência?
Não vi, passou o tempo.  
O espelho denuncia, mudou,  
não percebi,  agora paro?
Continuo?
Paro continuo?
 Aquele livro, quando veio?
Alguém o trouxe?
 Comprei?
Não sei, não lembro,
já está amarelado,
sinal do tempo,
não li...
terei tempo?

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

PESSOAS

 g
Estive pensando em pessoas, como são? Às vezes observo no trabalho, no shopping, na rua... quanta diversidade, como é instigante.  Nessa hora minha cabeça efervesce: o que pensam, aonde vão, com quem convivem, o que fazem, o que querem... Sempre me lembro da filosofa Hannah Arendt, para ela compreender significava enfrentar sem preconceitos a realidade, e resistir a ela, sem procurar explicações em antecedentes históricos. Difícil mas necessário, olharmos os outros e nos despirmos de qualquer preconceito. Seria possível entender o Ser Humano? Ficaria louca tentando, também não quero ser compreendida por ninguém, apenas que respeitem a minha verdade assim como tento respeitar a verdade do outro.
Quando comecei a trabalhar na área da Educação (Educação com E maiúsculo, estamos precisando) acreditei que encontraria pessoas diferentes, sim as encontrei, com defeitos, qualidades, visões distintas, algumas longínquas até mesmo do nosso foco a Educação, já estou fazendo “preconceitos”, inevitável, sou um Ser Humano ainda em busca de algumas verdades, de algumas melhoras, buscando sempre...
Encontrei na minha caminhada, diversas pessoas que me fizeram sentir melhor, outras nem tanto... a vida é assim... Existem aquelas dos abraços aconchegantes que me trazem uma paz celestial, talvez sentida por todos os santos, encantos e axés; o aconchego do olhar, que sempre está ali ao meu alcance, sinto Minas Gerais; a alegria, louca e sã de uma amiga que me faz rir e brincar todos os dias úteis, como são divertidos e realmente úteis ao seu lado; uma irmã, com sua irreverência, sua fé; Minha irmã Boca, ficamos anos sem nos vê, mas os reencontros, nos faz pensar que nunca nos separamos; sabedoria infinita, compartilhamos o amor pela leitura, poesia... Muitas passam, outras ficam.
Lembrar da infância/adolescência é imprescindível, Irene, como já escrevi no texto Minhas Saudades, sinônimo de infância. Alegrias, festas, descobertas, adolescência como não marcariam. O meu Grande Amigo, esse, mesmo distante, não passou, ele faz parte da minha vida, o que seria de mim sem as conversas que tivemos e temos, mais esporádicas, porém mais sábias, leves, poéticas.
Certa vez uma amiga falou que sou seletiva, quando se trata de Pessoas, talvez seja. Falo muito, geralmente pessoas que falam muito, não observam, mas consigo ser diferente, pra mim, falar muito é inevitável, mas observar é necessário, não sei como, mas consigo.  A seletividade ela acontece quando existe algo mágico, que nos encanta. O tempo nos faz aperfeiçoar esses sentidos. Tempo, o tempo como diz a música do Caetano Veloso, Oração ao Tempo: ...Por seres tão inventivo, E pareceres contínuo, Tempo tempo tempo tempo, És um dos deuses mais lindos, Tempo tempo tempo tempo... O tempo, além de inventivo, nos amadurece, o tempo é perfeito, vamos melhorando, crescendo, acredito, talvez queira acreditar.
Manoel de Barros em sua simplicidade diz “Poesia não é para compreender, mas, para incorporar. Entender é parede: procure ser árvore.” Quando me refiro a Pessoas, gostaria de ser árvore, buscando não entendê-las, mas senti-las, essas pessoas ficam... outras vão. 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ler e Prazer


Assim como Borges não consigo imaginar o mundo sem livros, seria horrível sem “Minha Cidade” da Cora Coralina, que tédio seria sem a leveza do grande Mário Quintana quando escreveu “Naquele dia fazia um azul tão límpido, meu Deus, que eu me sentia perdoado pra sempre não sei de quê.", e a força louca e sã da Florbela Espanca, o que seria do mundo sem as borboletas de Manoel de Barros, com as quais ele pensa mudar os homens, e a liberdade de Clarice Lispector, quem nuca a desejou, meu amado Friedrich Nietzsche – “A fala é uma deliciosa loucura. Por meio dela o homem dança sobre todas as coisas”.

Uma pequena parte do meu arsenal
Atualmente estou lendo Variações Sobre o Prazer, de Rubem Alves, que livro, sinto que faço parte dele, claro estou nele, isso porque estou na página 86, penso que ao terminá-lo o prazer será intenso. E por falar em prazer, lembrei-me  que brinco com alguns amigos dizendo que  quando entro numa livraria, especialmente a Livraria Cultura, sinto orgasmos múltiplos, se não, é algo bem parecido. Quando fui a Argentina, ao entrar na livraria El Alteno, nossa que visão, não tive vontade de sair, é inexplicável visualizar aquele imensidão de livros, pensem o tanto de conhecimento, de vida exite ali...
É isso que os livros me proporcionam, o melhor dos prazeres, são meus fazedores de sonhos. Estava vasculhando algo na internet quando deparei com o texto Ler e prazer de Rubem Alves, não foi possível guardá-lo só pra mim, assim compartilho com vocês, deleitem.
  
LER E PRAZER
Rubem Alves
Nietzsche estava certo: “De manhã cedo, quando o dia nasce, quando tudo está nascendo – ler um livro é simplesmente algo depravado...” É o que sinto ao andar pelas manhãs pelos maravilhosos caminhos da Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico de Campinas. Procuro esquecer-me de tudo que li nos livros. É preciso que a cabeça esteja vazia de pensamentos para que os olhos possam ver. Aprendi isso lendo Alberto Caeeiro, especialista inigualável na difícil arte de ver. Dizia ele que “pensar é estar doente dos olhos...” Mas meus esforços são frustrados. As coisas que vejo são como o beijo do príncipe: elas vão acordando os poemas que aprendi de cor e que agora estão adormecidos na minha memória. Assim, ao não pensar da visão une-se o não pensar da poesia. E penso que o meu mundo seria muito pobre se em mim não estivessem os livros que li e amei. Pois, se não sabem, somente as coisas amadas são guardadas na memória poética, lugar da beleza. “Aquilo que a memória amou fica eterno”,  tal como o disse a Adélia Prado, amiga querida. Os livros que amo não me deixam. Caminham comigo. Há os livros que moram na cabeça e vão se desgastando com o tempo. Esses, eu deixo em casa. Mas há os livros que moram no corpo. Esses são eternamente jovens. Como no amor, uma vez não chega. De novo, de novo, de novo...
Livraria El Ateneo - Buenos Aires
Um amigo me telefonou. Tinha uma casa em Cabo Frio. Convidou-me. Gostei. Mas meu sorriso entortou quando ele disse: “Vão também cinco adolescentes...” Adolescentes podem ser uma alegria. Mas podem ser também uma perturbação para o espírito. Assim, resolvi tomar minhas providências. Comprei uma arma de amansar adolescentes. Um livro. Uma versão condensada da Odisséia, as fantásticas viagens de Ulisses de volta à casa, por mares traiçoeiros...
Primeiro dia: praia; almoço; sono. Lá pelas cinco os dorminhocos acordaram, sem ter o que fazer. E antes que tivessem idéias próprias eu tomei a iniciativa. Com voz autoritária dirigi-me a eles, ainda sob o efeito do torpor: “Ei, vocês... Venham cá na sala. Quero lhes mostrar uma coisa...” Não consultei as bases. Teria sido terrível. Uma decisão democrática das bases optaria por ligar a televisão. Claro. Como poderiam decidir por uma coisa que ignoravam? Peguei o livro e comecei a leitura. Ao espanto inicial seguiu-se silêncio e  atenção. Vi, pelos seus olhos, que já estavam sob o domínio do encantamento. Daí para frente foi uma coisa só. Não me deixavam. Por onde quer que eu fosse, lá vinham eles com a Odisséia na mão, pedindo que eu lesse mais. Nem na praia me deram descanso.
Essa experiência me fez pensar que deve haver algo errado na afirmação que sempre se repete de que os adolescentes não gostam da leitura. Sei que, como regra, não gostam de ler. O que não é a mesma coisa que não gostar da leitura. Lembro-me da escola primária que freqüentei. Havia uma aula de leitura. Era a aula que mais amávamos. A professora lia para que nós ouvíssemos. Leu todo o Monteiro Lobato. E leu aqueles livros que se lia naqueles tempos: Heidi, Poliana, A ilha do tesouro. Quando a aula terminava era a tristeza. Mas o bom mesmo é que não havia provas ou avaliações. Era prazer puro. E estava certo. Porque esse é o objetivo da literatura: prazer. O que os exames vestibulares tentam fazer é transformar a literatura em informações que podem ser armazenadas na cabeça. Mas o lugar da literatura não é a cabeça: é o coração. A literatura é feita com as palavras que desejam morar no corpo. Somente assim ela provoca as transformações alquímicas que deseja realizar. Se não concordam, que leiam Guimarães Rosa que dizia que literatura é feitiçaria que se faz o sangue do coração humano.
Quando minha filha estava sendo introduzida na literatura o professor lhes deu como dever de casa ler e fichar um livro chatíssimo. Sofrimento dos adolescentes, sofrimento para os pais. A pura visão do livro provocava uma preguiça imensa, aquela preguiça que Barthes declarou ser essencial à experiência escolar. Escrevi carta delicada ao professor lembrando-lhe que Borges havia declarado que não havia razão para se ler um livro que não dá prazer quando há milhares de livros que dão prazer. Sugeri-lhe começar por algo mais próximo da condição emotiva dos jovens. Ele me respondeu com o discurso de esquerda, que sempre teve medo do prazer: “ O meu objetivo é produzir a consciência crítica...” Quando eu li isso percebi que não havia esperança. O professor não sabia o essencial. Não sabia que literatura não é para produzir consciência crítica. O escritor não escreve com intenções didático-pedagógicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor. Escrever e ler são formas de fazer amor. É por isso que os amores pobres em literatura ou são de vida curta, ou são de vida longa e tediosa... Parodiando as palavras de Jesus “nem só de beijos e transas viverá o amor mas de toda palavra que sai das mãos dos escritores...”
E foi em meio a essas meditações que, sem que eu o esperasse, foi-me revelado o segredo da leitura...


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

HISTÓRIA - Alexandre, O Grande 356 a.C., Macedônia


Estátua de Alexandre o Grande na Cidade de Tessalônica
A mãe Olympia, segundo a lenda, no momento da concepção, sonhou que uma serpente entrou silenciosamente no seu quarto. Insinuando-se entre os cobertores, deslizou entre suas pernas e seus seios, e a possuiu sem machucá-la. E o seu sêmen se misturou com aquele que o marido, o rei Filipe II, lhe dera momentos antes de ser vencido pelo sono e pelo vinho. 
Alexandre era filho de Filipe da Macedônia, que se tornou rei em 338 a.C., dominando toda a Grécia, com exceção de Esparta. Os gregos sempre afirmaram desprezar a Macedônia, que consideravam um lugar atrasado e bárbaro.  Mas Filipe II estava determinado a mudar isso. Em 342 a.C., convidou o ateniense Aristóteles para ir até sua capital, Pella, ser professor particular de seu filho de 13 anos, Alexandre. Filipe queria que a educação do seu filho o preparasse para seu futuro papel como líder militar. Aristóteles, que nutria verdadeira paixão pela natureza (ele identificou mais de 500 espécies de animais), passou três anos dando aulas a Alexandre. Ensinou ao rapaz política, retórica, ciência, medicina e literatura grega. Mais tarde Alexandre iria encontrar inspiração no poema Ilíada, de Homero, que levava consigo nas campanhas.
Ao mesmo tempo, o príncipe se interessava pelas artes marciais e pela domesticação de cavalos. Na arte da guerra, Filipe II, militar experiente e corajoso, instruiu o filho com conhecimentos de estratégia e de comando. Alexandre, com 18 anos, pôde mostrar seu talento quando, à frente de um esquadrão de cavalaria, venceu o batalhão sagrado de Tebas, na Batalha de Queronéia, em 338 a.C.
Depois do assassinato de seu pai em 336 a.C., Alexandre assumiu o trono da Macedônia enfrentando resistência em algumas cidades gregas. Com o poder nas mãos, o jovem rei que viria a ser conhecido como Magno (ou o Grande) deu início à expansão territorial do reino e ao seu ambicioso projeto de conquistar o Império Persa. Contava com um exército poderoso e organizado, dividido em infantaria, cuja principal arma eram lanças de grande comprimento, e em cavalaria, que constituía a base do ataque rápido ao inimigo.
A conquista do Oriente Médio por Alexandre, iniciada com sua vitória e Granico em maio de 334 a.C., e a consequente dominação da Ásia Menor tornaram-se inevitáveis no ano seguinte, quando enfrentou e destruiu um exército muito maior o de Dario III.
Alexandre foi acumulando inúmeras  conquistas. Depois da vitória contra Dario em Isso, Alexandre marchou rumo ao sul e atravessou a Jordânia para chegar ao Egito, onde a antiga civilização havia sido reduzida à condição de província persa. O governador persa não teve como resistir, e Alexandre foi recebido como libertador. Subiu o Nilo até Mênfis,  onde sacrificou um touro a Amon, e logo depois foi coroado rei do Egito.
Alexandria em 1681
Em 331 a.C., Alexandre começou a procuraram lugar para fundar uma nova cidade que ligaria o Egito ao mundo grego. Descobriu um lugar na costa do Mediterrâneo  mencionado por Heródoto e Homero, na Odisseia; protegido pelo mar, pelo deserto e por outros obstáculos naturais, era uma localização central , de fácil defesa, e de onde se podia chegar a Grécia sem dificuldades. Alexandre demarcou ruas, palácios, templos, muralhas e até  mesmo um complexo sistema de esgoto. Poço depois, Alexandre deixou o Egito. Nunca chegou a ver concluída.
Em 332 a.C., ao chegar na Babilônia, Alexandre estava cheio de ambição e logo deu início aos planos de enviar uma frota para invadir a Arábia. No dia 29 de maio, porém, ele caiu doente depois de um longo banquete regado a muito álcool. Já estva febril, mas continuou a trabalhar, sendo carregado de modo a poder dar ordens a seu exército. Também continuo a cumprir seus rituais e deveres religiosos, mas de nada adiantou. Após duas semanas de febre, Alexandre faleceu aos 32 anos.
Começaram a circular boatos que havia sido envenenado, mas considerando todas as informações, é provável que tenha morrido de causas naturais, alguns fontes sugerem que tenha sido malária e que sua morte foi rápida devido aos remédios receitados pelos médicos.
Alexandria em 2011
AleNo dia 9 de julho, os veteranos do exército macedônio passaram pela última revista diante de seu líder. No leito de morte, Alexandre deu seu anel ao general Pérdicas, que perguntou sobre suas intenções em relação à sucessão, pois usa esposa, Roxana, estava grávida, respondeu “Que vença o melhor”. Após sua morte iniciaram as discussões da sucessão, levando a uma disputa de 55 anos conhecida como as guerras dos “diodochi” (sucessores).
O corpo embalsamado de Alexandre foi levado para o Egito e depositado em Alexandria, sua cidade à beira do Mediterrâneo. Ali permaneceu durante todo o período romano, mas desapareceu logo depois.
Hoje Alexandria é uma cidade do Egito, com uma população de cerca de 4,1 milhões de pessoas, é a segunda maior cidade do Egito, e o maior porto do país, servindo 80% das importações e exportações da cidade. Além disso, é um grande ponto turístico.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre,_o_Grande, O livro 1001 DIAS QUE ABALARAM O MUNDO - Peter Furtado

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Os Cheiros


Existem coisas que nunca esquecemos, os cheiros é uma delas, inúmeras vezes nos deparamos com um cheiro e ele nos remete a lembranças remotas ou não. No início de 2010 li “Os Cheiros” escrito por Danuza Leão, tirei a página da revista e sempre voltava a lê-lo. Me sentir,sinto, dentro de todos os cheiros, é como voltar, reviver ou viver. Existem textos, citações, poesias, pensamentos... que nos envolve, toca, passamos a ser parte deles ou ele é parte de nós?
Existem cheiros inesquecíveis. Cada pessoa tem seus prediletos. E basta uma mínima lembrança para que tudo volte: a temperatura do momento, a felicidade ou a tristeza que se sentia, as imagens de quem estava perto, tudo. Tudo. Cheiros podem ser alegres ou tristes. Era muito bom quando se entrava em casa depois do colégio, logo antes do almoço, e se sentia o cheiro do refogado – alho, cebola e tomate – para fazer o picadinho ou o bife de panela enrolado no bacon e preso por um palitinho. Quantos segundos você leva para atravessar o tempo e voltar aos seus 11 anos?
Flores do jardim da casa da minha mãe, em Morro do Chapéu - Bahia, cheiro inesquecível.
Lembra quando há muitos, muitos anos, você ia passar as férias na fazenda? Ah, uma fazenda tem aromas absolutamente inesquecíveis: o do capim, o da terra depois da chuva, o do estábulo onde se ia de manhã bem cedo tomar o leite tirado da vaca, ainda morno, numa canequinha de alumínio. E o cheiro da tangerina? Aliás, tangerina não, mexerica; aquela pobrinha, modesta, de casca fina, que deixava a mão cheirando durante três dias. Esse é um cheiro muito alegre. O cheiro do bolo saindo do forno é para sempre – bolo de tabuleiro, cortado em losangos, com cobertura de açúcar com limão, e um detalhe precioso: naquele tempo, por mais que se comesse não se engordava, e em cima da mesa havia sempre um vidro de fortificante para abrir o apetite. Que felicidade ter tido uma infância no interior! Mas existem outros aromas não ligados ao paladar e também inesquecíveis. O cheiro do mar quando se chega em Salvador – uma licença poética, com licença. E você já teve uma tia-avó que morava numa casa bem arrumada, cujo assoalho era encerado toda semana? O brilho era dado a mão, com uma escova de cabo alto como uma vassoura, e era chegar e ouvir: “Cuidado para não escorregar”. Que cheiro limpo, honesto, que cheiro de gente direita. Será que isso ainda existe?
Mas há também os cheiros angustiantes: os de hospital, de sala de cirurgia. Muito cheiro de flor você sabe o que lembra – melhor não falar disso. E existem os perfumes ricos: de carro novo, de um bom fumo de cachimbo. E vamos combinar: cheiro de alho é bom na cozinha, de sexo no quarto, e é proibido misturar. Por falar nisso, o cheiro do homem que se ama, depois do amor, é melhor nem lembrar para não desmaiar de saudade.
As cidades também têm seu cheiro, cada uma muito particular: se você for levada, de olhos vendados, para o Bloomingdale’s, sabe na hora que está em Nova York. E se respirar um aroma de cominho misturado a curry e a canela vai saber que está no souk de Marrakesh.
Mas existe um cheiro que só as mulheres conhecem. É o que elas sentem quando estão enxugando seus bebês depois do banho. É preciso que não haja uma só pessoa por perto num raio de 200 metros para não haver interferência de qualquer ordem. Sem nenhuma presença estranha – nem mesmo a do pai –, mãe e filho poderão dizer bobagens e rir de coisas que só eles vão entender. Depois do talco, a mãe vai botar o nariz no pescoço de sua cria e cheirar com todos os seus cinco sentidos. No princípio timidamente, mas cada vez mais forte, até quase arrebentar os pulmões de tanto amor. Na hora a gente não sabe, mas um dia vai saber: não existe nada igual a esse cheiro nem a esse momento, e nunca vai haver um melhor. Porque esse é o cheiro da vida.
Danuza Leão é cronista, autora de vários livros, entre os quais Na Sala com Danuza 2 (ARX) e Quase Tudo (Cia. das Letras) FotoEduardo Pozella

sábado, 5 de novembro de 2011

MINHA DOCE LOUCURA




Loucura, segundo o dicionário Aurélio é o distúrbio da mente do indivíduo que o afasta de seus métodos habituais de pensar, sentir e agir. A inquietação nos faz pensar que somos loucos, a cabeça gira, não para de querer, de buscar, para, respira, pensa, é loucura. Minha loucura vem desde a infância, sempre querendo mais, questionando as regras de uma sociedade que só inibe.
Questionar um adulto nos anos 70 era falta de respeito, tinha que aceitar, pronto.  Não parei, questionava, procurava, era repreendida... persistia. Anos 80, adolescência, continuava tentando sair do padrão, mas a rédea me castigava, doía, mas felizmente, não parei, continuei na minha insanidade, a qual era alimentada pelos livros que já devorava.
Observava... ria da minha loucura, fui apresentada a outro louco (Márcio Brito), que alimentou ainda mais minha loucura, conversávamos, discutíamos, nos alimentávamos de descobertas, logo descobrir outro louco que me alimentou ainda mais Friedrich Nietzscher, inúmeras vezes uma de suas falas encaixou certinho na minha busca -Quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez - a si próprio? – perdi as contas de quantas vezes me calei diante de muitos, principalmente de um certo professor de sociologia que não aceitava as minhas colocações, eram consideradas impuras, fora da realidade ditada por uma sociedade charlatã. Fugi da Igreja, ela considerava todos os meus questionamentos loucos, a tal falta de juízo, era ela ou o seu representante, talvez os dois, o representante era meu professor de sociologia.
Com Nietzscher, vieram outros tantos que até hoje alimentam minha alma. Lou Salomé viveu apaixonadamente – “Ouse, ouse... ouse tudo!!! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!!” Florbela Espanca com sua busca tentando compreendê-la criava suas poesias que me fez/fazem viajar, entender a minha inquietação –
Minh’alma ardente é uma fogueira acessa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ânsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza
Tudo é vago e incompleto! E o que mais pesa
É nada ser perfeito! É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar
E tudo ser em vão! Deus, que tristeza!...

Entrou na minha vida quietinho falando baixinho e apoderou de todos os meus sentidos, meu grande Mário Quintana doce, usando suas palavras “Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a gente a ele”... tantos me alimentaram, Manoel de Barros, Pablo Neruda, meu conterrâneo Jorge Amado, meu lindo Caetano, meus amores são inúmeros, o louco e apaixonante Dom Quixote, necessito agradecer ao criador desse meu amor Miguel de Cervantes, Dom Quixote disse: “Sonhar o sonho impossível, sofrer a angústia implacável, pisar onde os bravos não ousam, reparar o mal irreparável, amar um amor casto à distância, enfrentar o inimigo invencível, tentar quando as forças se esvaem, alcançar a estrela inatingível: Essa é a minha busca”. Como poderia esquecer aquela que a sua poesia me faz sentir ninada, a minha doce, amada Cora Coralina, aquela da rua da ponte, aquela que diz que foi uma menina feia, ela é ...aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores. Impossível citar todos que me levam a me deliciar com minha lúcida loucura.
O tempo passou minha loucura tomou rumos diversos, conheci outros alimentadores da alma, as regras insistem em me podar, mas a inquietude é mais forte e procuro caminhar, encontrando brechas... assim vou alimentando minha loucura, com conhecimentos diversos, com poesia, com uma vontade de viver cada dia mais forte...
Concluo, ou não, com Clarice Lispector
“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

domingo, 30 de outubro de 2011

História - Criação das Escolas

      A palavra “escola” vem do grego scholé, que significa “lugar do ócio”. Isso porque as pessoas iam à escola em seu tempo livre, para refletir. Vários centros de ensino surgiram pela Grécia, por iniciativa de diferentes filósofos. Geralmente os discípulos do filósofo-fundador davam continuidade as escolas e cada uma valorizava uma área do conhecimento. A escola de Isócrates, um eminente orador, por exemplo, era muito forte no ensino da eloquência, que é a arte de se expressar bem. Mas as escolas multitemáticas, que contemplam as disciplinas básicas que temos hoje, como matemática, ciências, história e geografia, só surgiram entre os séculos 19 e 20.


Primeiras formas de ensino surgiram há quase 2 400 anos 
4000 a.C.  - Por volta de 4000 a.C., os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme, considerada uma das primeiras formas de escrita. O saber escrever era ensinado em casa, de pai para filho.
378 a.C.  - O filósofo grego Platão criou uma espécie de escola onde se estudavam disciplinas como filosofia e matemática por meio de questionamentos. O protótipo escolar ficava nos jardins de Academos, em Atenas – daí vem o termo “academia”.
A Escola de Atenas. Ao centro Platão e Aristóteles, mestre e aluno, que apesar de sua boa relação possuiam filosofias distintas. Reparem que Platão aponta para o céu enquanto Aristóteles aponta para a terra. Alusão direta ao choque do mundo das idéias de Platão, muito parecido com o que algumas religiões defendem, e a filosofia mais "concreta" de Aristóteles.
343 a.C. - Em famílias mais ricas, era comum pagar-se um preceptor, um mestre com mais conhecimentos que guiasse as crianças nos estudos. Em 343 a.C. Aristóteles, por exemplo, tornou-se preceptor de Alexandre, o Grande, rei da Macedônia .
Século 4 a.C.  -Surgem as primeiras escolas”. Eram locais onde mestres ensinavam gramática, excelência física, música, poesia, oqüência, mas não existiam salas de aula no sentido atual. Esse modelo dura séculos, até as escolas modernas.
859 - Surge a Universidade de Karueein em Fez, no Marrocos, que existe até hoje. É considerada a primeira universidade do mundo no sentido moderno do termo – uma instituição dividida em departamentos com conhecimentos de diferentes áreas 
Século 12 - Surgem na Europa as primeiras escolas nos moldes das atuais, com crianças nas carteiras e professores em salas de aula. Eram obras de instituições de caridade católicas que ensinavam a ler, escrever, contar e, junto, iam transmitindo as lições do catecismo.
1158 - O imperador do Sacro Império Romano-Germânico Frederico Barba Ruiva funda a Universidade de Bolonha, na Itália, primeira da Europa. Na maior parte do continente, o conhecimento ficava limitado ao clero – Bolonha era exceção.
1549 - É fundada a primeira escola do Brasil, em Salvador, por um grupo de jesuítas, que também funda a segunda, em 1554, em São Paulo – a data marca também a fundação da cidade. Ensinava-se a ler, escrever, matemática e doutrina católica.
1792 - É criada a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, que, com o tempo, foi agregando outras especialidades e acabou tornando-se a Escola Politécnica da UFRJ. Ela ganha o nome de Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1920.
1808 -  Dom João VI funda a primeira faculdade do Brasil, a Faculdade de Medicina da Bahia. Lá formou-se Rita Lobato Velho Lopes, a primeira médica brasileira diplomada em território nacional. Ela jogou o chapéu pra cima em 1887.
1827 - Surgem no Brasil as duas primeiras faculdades de direito. Em uma tacada só, dom Pedro I funda a Faculdade de Olinda e a do Largo São Francisco, em São Paulo. A São Francisco formou presidentes brasileiros, como Washington Luís e Jânio Quadros.
1912 - É fundada a Universidade Federal do Paraná, a primeira do Brasil a já surgir com esse status.

Fonte: Carlota Boto e Cecília Cortez, professoras da Faculdade de Educação da USP

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A PEDAGOGIA DE GARFIELD


Revista Veja 12/10/2011

A literatura está virtualmente ausente do Enem. Para os técnicos do MEC, o gato dos quadrinhos é mais relevante culturalmente do que Graciliano Ramos ou Castro Alves


Jerônimo Teixeira
Desde a suprimeiredição, em 1998, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), provque avalia a qualidade das escolas secundárias e hoje substitui o vestibular em muitas universidades, reconheceu apenas duas vezes a existêncide um romancistbrasileiro do século XIX chamado José de Alencar. Nedição de 2009, o nome do escritor constou em umdas alternativas erradas parumperguntsobre regionalismo. Antes disso, em 2004, o autor de O Guarani foi lembrado em umquestão de biologi– sobre tuberculose, doençque casou a morte, em 1877. O Enem nuncfez umperguntespecíficsobre a vidou a obra do maior prosador do romantismo brasileiro. Jamais pediu aos alunos que interpretassem um texto seu. Outros nomes de primeirlinhdas letras em línguportuguesa fazem companhia a José de Alencar no clube dos esquecidos. Parficar em poucos exemplos, temos o pregador jesuíta Antônio Vieira, o poetinconfidente Tomás Antônio Gonzage Euclides dCunha, autor do monumental Os Sertões. Os avaliados pelo Enem, em compensação, com frequêncisão chamados a interpretar as histórias em quadrinhos de Jim Davis, criador do gato Garfield, ou de Dik Browne, pai do viking Hagar. Um grupo de pesquisadores do Instituto de Letras dUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) fez um levantamento extensivo de todas as provas, desde o primeiro Enem – incluindo a provque vazou e teve de ser invalidada, em 2009 –, para avaliar o peso que a literaturtem no exame. As conclusões são desalentadoras.
começar pelvalorização desmesuraddas histórias em quadrinhos – o segundo gênero mais cobrado nprova, atrás apenas de poesi(vejo quadro abaixo) –, o exame mostrdesproporções e equívocos de todordem. Os escritores anteriores ao modernismo são negligenciados: apenas cercde 17% das questões versam sobre a literaturque precede a décadde 20. Períodos inteiros foramapagados dhistóridliteraturnversão do Enem: o barroco e o século XVII, por exemplo, não existem. Talvez aindmais grave, não se exige nenhumleiturprévia dos alunos, quando no antigo vestibular das melhores universidades haviumlistde livros obrigatórios. Aparentemente, os iluminados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) – órgão do Ministério da Educação responsável pelelaboração dprov– consideram que um estudante pode entrar nuniversidade sem jamais ter lido Dom Casmurro, de Machado de Assis, ou Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
Ao contrário do que vigoravnos vestibulares tradicionais das melhores universidades brasileiras, não há, no Enem, umseção específica de literatura. A rigor, tampouco existe línguportuguesa: as duas disciplinas estão diluídas, com línguestrangeire expressão corporal (sim, isso mesmo: expressão corporal), em um módulo chamado "Linguagens, códigos e suas tecnologias". Os catorze exames aplicados até hoje – a edição deste ano será realizadnos dias 22 e 23 –, sempre incluindo o fiasco dprovinvalidadde 2009, somam 1233 questões objetivas, das quais 164, nas contas dos pesquisadores dUFRGS, versam sobre literatura. Não serimau que, em umprova destinada a avaliar todos os conteúdos do ensino médio, cercde 13% das questões fossem dedicadas à culturliterária. Mas esse número inclui modalidades como histórias em quadrinhos e letras de canções populares, respectivamente segundo e sexto lugares entre os gêneros mais exigidos no Enem. Além disso, nmaior parte dessas questões, os textos literários (ou os quadrinhos) figuram apenas como ilustração parproblemas de outras disciplinas. UmtirinhdMafaldou um texto de Machado de Assis podem ser usados para avaliações de gramátic(se é que a palavra aindfaz sentido no meio das tais linguagens, códigos e tecnologias) ou parlevar o aluno a exercitar a mais básicinterpretação de texto. Textos literários também são utilizados para aferir conhecimentos de ciência, geografiou história. Um poemde Carlos Drummond de Andrade (o autor mais citado no exame) já foi usado parperguntar sobre problemas ambientais causados pelmineração. Em um dos casos mais pitorescos, um trecho do conto O Jardim dos Caminhos que Se Bifurcam, do argentino Jorge Luis Borges (um dos apenas cinco autores de línguestrangeirjá citados nprova), serviu de pretexto paruma questão sobre pontos cardeais.
No cômputo do estudo dUFRGS, apenas metade das questões que versam sobre textos literários é, de fato, sobre literatura. E apenas 20% exigem o conhecimento mais especializado que só uma aulde literaturpoderidar – por exemplo, noções de forme estilo ou de relação entre a obre seu contexto histórico (tópico que, no entanto, constnas declarações de intenção do Inep). "As questões sobre literatursão superficiais e a anódinas. Desprezam o conteúdo cultural, que deveriser o cerne de umprovsobre literatura", diz Luís Augusto Fischer, professor do Instituto de Letras dUFRGS e coordenador dpesquisa.
Sob a faltde critério dos avaliadores do Inep, há umdifuse demagógicpedagogia do vale-tudo. O pressuposto teórico é a valorização das variantes populares, dfale a desvalorização dnormculta, por seu suposto caráter elitiste preconceituoso. "Essa abordagem jogpor terra a ideide que há autores em cujobra a línguse realizou de formsuperior ou duradoura", diz Fischer. Ou seja, a noção de que um autor possser tomado como um clássico é tidcomo conservadora. No igualitarismo ignorante que se instaura a partir daí, não há mais nenhumdistinção de qualidade ou relevância, e o gato Garfield vale mais do que a poeside João Cabral de Melo Neto.
Tradicionalmente, o antigo vestibular tendia a enfatizar períodos e escolas literárias, às vezes em detrimento dleitura. Ermais importante saber que LimBarreto er"pré-modernista" (classificação genérice duvidosa) do que ler Triste Fim de Policarpo Quaresma. O Enem tinha a intenção de corrigir essdistorção. De fato, perguntas sobre períodos literários estão quase ausentes. O problemé que não se está perguntando nadno lugar. "impressão que tenho é que são amadores elaborando umprovdemasiado importante para o Brasil inteiro", diz Marcelo Frizon, um dos pesquisadores do estudo dUFRGS e professor de literaturem duas escolas de ensino médio em Porto Alegre. O mais preocupante é que o Enem tem o potencial de difundir o obscurantismo. Como vem substituindo o vestibular como portde entradpara a universidade, a provtende não apenas a avaliar, mas também a pautar o conteúdo dado nas escolas de ensino médio. "Esses exames costumam normatizar o que é ensinado em salde aula. Parser um pouco radical, se a coisa continuar assim, o ensino de literaturtende a desaparecer", diz a professorGabrielLuft, outrcolaboradordpesquisa. O Enem contribui parconstruir um país aindmais iletrado.

Desprezo pelo passado
O Enem põe um peso desproporcional sobre a literaturproduzida a partir do modernismo, desvalorizando a histórie a tradição. Das questões a respeito de literaturno exame, apenas 17% versam sobre obras anteriores a 1920. Autores fundamentais para a histórie paro desenvolvimento dlínguportuguesa, como o padre Antônio Vieira, José de Alencar e Euclides dCunha, não tiveram nenhum texto citado nprovdesde o seu início, em 1998.