Loucura, segundo o dicionário Aurélio é o distúrbio da mente do indivíduo que o afasta de seus métodos habituais de pensar, sentir e agir. A inquietação nos faz pensar que somos loucos, a cabeça gira, não para de querer, de buscar, para, respira, pensa, é loucura. Minha loucura vem desde a infância, sempre querendo mais, questionando as regras de uma sociedade que só inibe.
Questionar um adulto nos anos 70 era falta de respeito, tinha que aceitar, pronto. Não parei, questionava, procurava, era repreendida... persistia. Anos 80, adolescência, continuava tentando sair do padrão, mas a rédea me castigava, doía, mas felizmente, não parei, continuei na minha insanidade, a qual era alimentada pelos livros que já devorava.
Observava... ria da minha loucura, fui apresentada a outro louco (Márcio Brito), que alimentou ainda mais minha loucura, conversávamos, discutíamos, nos alimentávamos de descobertas, logo descobrir outro louco que me alimentou ainda mais Friedrich Nietzscher, inúmeras vezes uma de suas falas encaixou certinho na minha busca -Quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez - a si próprio? – perdi as contas de quantas vezes me calei diante de muitos, principalmente de um certo professor de sociologia que não aceitava as minhas colocações, eram consideradas impuras, fora da realidade ditada por uma sociedade charlatã. Fugi da Igreja, ela considerava todos os meus questionamentos loucos, a tal falta de juízo, era ela ou o seu representante, talvez os dois, o representante era meu professor de sociologia.
Com Nietzscher, vieram outros tantos que até hoje alimentam minha alma. Lou Salomé viveu apaixonadamente – “Ouse, ouse... ouse tudo!!! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!!” Florbela Espanca com sua busca tentando compreendê-la criava suas poesias que me fez/fazem viajar, entender a minha inquietação –
Minh’alma ardente é uma fogueira acessa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ânsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza
Tudo é vago e incompleto! E o que mais pesa
É nada ser perfeito! É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar
E tudo ser em vão! Deus, que tristeza!...
Entrou na minha vida quietinho falando baixinho e apoderou de todos os meus sentidos, meu grande Mário Quintana doce, usando suas palavras “Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a gente a ele”... tantos me alimentaram, Manoel de Barros, Pablo Neruda, meu conterrâneo Jorge Amado, meu lindo Caetano, meus amores são inúmeros, o louco e apaixonante Dom Quixote, necessito agradecer ao criador desse meu amor Miguel de Cervantes, Dom Quixote disse: “Sonhar o sonho impossível, sofrer a angústia implacável, pisar onde os bravos não ousam, reparar o mal irreparável, amar um amor casto à distância, enfrentar o inimigo invencível, tentar quando as forças se esvaem, alcançar a estrela inatingível: Essa é a minha busca”. Como poderia esquecer aquela que a sua poesia me faz sentir ninada, a minha doce, amada Cora Coralina, aquela da rua da ponte, aquela que diz que foi uma menina feia, ela é ...aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores. Impossível citar todos que me levam a me deliciar com minha lúcida loucura.
O tempo passou minha loucura tomou rumos diversos, conheci outros alimentadores da alma, as regras insistem em me podar, mas a inquietude é mais forte e procuro caminhar, encontrando brechas... assim vou alimentando minha loucura, com conhecimentos diversos, com poesia, com uma vontade de viver cada dia mais forte...
Concluo, ou não, com Clarice Lispector
“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”
Comentário enviado via Orkut pelo Newton Feitosa - oi neide,terminei de ler o seu post ,ótimo texto,por coincidência li ouvindo a música “elephant gun” da banda beirut,aquele tema da minissérie da globo Capitu,combinou bem,acho que ver a sua intimidade cultural revelada assim é muito bom porque antes disso cada pessoa tinha uma imagem de você,acho que para as pessoas de fora do seu convívio no morro você passava uma imagem de poliana,a menina feliz com tudo na vida,no entanto agora vemos que você sempre nadou contra a correnteza da repressão,ao mesmo tempo sempre sedenta de conhecimentos,infelizmente as instituições e a maioria das pessoas vão sempre estar aí pra nos reprimir,nunca libertar ,você citou Caetano então vale citar a frase dele “é proibido proibir”,no melhor sentido da frase,bem longe da vulgaridade em moda atualmente
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