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domingo, 30 de outubro de 2011

História - Criação das Escolas

      A palavra “escola” vem do grego scholé, que significa “lugar do ócio”. Isso porque as pessoas iam à escola em seu tempo livre, para refletir. Vários centros de ensino surgiram pela Grécia, por iniciativa de diferentes filósofos. Geralmente os discípulos do filósofo-fundador davam continuidade as escolas e cada uma valorizava uma área do conhecimento. A escola de Isócrates, um eminente orador, por exemplo, era muito forte no ensino da eloquência, que é a arte de se expressar bem. Mas as escolas multitemáticas, que contemplam as disciplinas básicas que temos hoje, como matemática, ciências, história e geografia, só surgiram entre os séculos 19 e 20.


Primeiras formas de ensino surgiram há quase 2 400 anos 
4000 a.C.  - Por volta de 4000 a.C., os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme, considerada uma das primeiras formas de escrita. O saber escrever era ensinado em casa, de pai para filho.
378 a.C.  - O filósofo grego Platão criou uma espécie de escola onde se estudavam disciplinas como filosofia e matemática por meio de questionamentos. O protótipo escolar ficava nos jardins de Academos, em Atenas – daí vem o termo “academia”.
A Escola de Atenas. Ao centro Platão e Aristóteles, mestre e aluno, que apesar de sua boa relação possuiam filosofias distintas. Reparem que Platão aponta para o céu enquanto Aristóteles aponta para a terra. Alusão direta ao choque do mundo das idéias de Platão, muito parecido com o que algumas religiões defendem, e a filosofia mais "concreta" de Aristóteles.
343 a.C. - Em famílias mais ricas, era comum pagar-se um preceptor, um mestre com mais conhecimentos que guiasse as crianças nos estudos. Em 343 a.C. Aristóteles, por exemplo, tornou-se preceptor de Alexandre, o Grande, rei da Macedônia .
Século 4 a.C.  -Surgem as primeiras escolas”. Eram locais onde mestres ensinavam gramática, excelência física, música, poesia, oqüência, mas não existiam salas de aula no sentido atual. Esse modelo dura séculos, até as escolas modernas.
859 - Surge a Universidade de Karueein em Fez, no Marrocos, que existe até hoje. É considerada a primeira universidade do mundo no sentido moderno do termo – uma instituição dividida em departamentos com conhecimentos de diferentes áreas 
Século 12 - Surgem na Europa as primeiras escolas nos moldes das atuais, com crianças nas carteiras e professores em salas de aula. Eram obras de instituições de caridade católicas que ensinavam a ler, escrever, contar e, junto, iam transmitindo as lições do catecismo.
1158 - O imperador do Sacro Império Romano-Germânico Frederico Barba Ruiva funda a Universidade de Bolonha, na Itália, primeira da Europa. Na maior parte do continente, o conhecimento ficava limitado ao clero – Bolonha era exceção.
1549 - É fundada a primeira escola do Brasil, em Salvador, por um grupo de jesuítas, que também funda a segunda, em 1554, em São Paulo – a data marca também a fundação da cidade. Ensinava-se a ler, escrever, matemática e doutrina católica.
1792 - É criada a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, que, com o tempo, foi agregando outras especialidades e acabou tornando-se a Escola Politécnica da UFRJ. Ela ganha o nome de Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1920.
1808 -  Dom João VI funda a primeira faculdade do Brasil, a Faculdade de Medicina da Bahia. Lá formou-se Rita Lobato Velho Lopes, a primeira médica brasileira diplomada em território nacional. Ela jogou o chapéu pra cima em 1887.
1827 - Surgem no Brasil as duas primeiras faculdades de direito. Em uma tacada só, dom Pedro I funda a Faculdade de Olinda e a do Largo São Francisco, em São Paulo. A São Francisco formou presidentes brasileiros, como Washington Luís e Jânio Quadros.
1912 - É fundada a Universidade Federal do Paraná, a primeira do Brasil a já surgir com esse status.

Fonte: Carlota Boto e Cecília Cortez, professoras da Faculdade de Educação da USP

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A PEDAGOGIA DE GARFIELD


Revista Veja 12/10/2011

A literatura está virtualmente ausente do Enem. Para os técnicos do MEC, o gato dos quadrinhos é mais relevante culturalmente do que Graciliano Ramos ou Castro Alves


Jerônimo Teixeira
Desde a suprimeiredição, em 1998, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), provque avalia a qualidade das escolas secundárias e hoje substitui o vestibular em muitas universidades, reconheceu apenas duas vezes a existêncide um romancistbrasileiro do século XIX chamado José de Alencar. Nedição de 2009, o nome do escritor constou em umdas alternativas erradas parumperguntsobre regionalismo. Antes disso, em 2004, o autor de O Guarani foi lembrado em umquestão de biologi– sobre tuberculose, doençque casou a morte, em 1877. O Enem nuncfez umperguntespecíficsobre a vidou a obra do maior prosador do romantismo brasileiro. Jamais pediu aos alunos que interpretassem um texto seu. Outros nomes de primeirlinhdas letras em línguportuguesa fazem companhia a José de Alencar no clube dos esquecidos. Parficar em poucos exemplos, temos o pregador jesuíta Antônio Vieira, o poetinconfidente Tomás Antônio Gonzage Euclides dCunha, autor do monumental Os Sertões. Os avaliados pelo Enem, em compensação, com frequêncisão chamados a interpretar as histórias em quadrinhos de Jim Davis, criador do gato Garfield, ou de Dik Browne, pai do viking Hagar. Um grupo de pesquisadores do Instituto de Letras dUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) fez um levantamento extensivo de todas as provas, desde o primeiro Enem – incluindo a provque vazou e teve de ser invalidada, em 2009 –, para avaliar o peso que a literaturtem no exame. As conclusões são desalentadoras.
começar pelvalorização desmesuraddas histórias em quadrinhos – o segundo gênero mais cobrado nprova, atrás apenas de poesi(vejo quadro abaixo) –, o exame mostrdesproporções e equívocos de todordem. Os escritores anteriores ao modernismo são negligenciados: apenas cercde 17% das questões versam sobre a literaturque precede a décadde 20. Períodos inteiros foramapagados dhistóridliteraturnversão do Enem: o barroco e o século XVII, por exemplo, não existem. Talvez aindmais grave, não se exige nenhumleiturprévia dos alunos, quando no antigo vestibular das melhores universidades haviumlistde livros obrigatórios. Aparentemente, os iluminados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) – órgão do Ministério da Educação responsável pelelaboração dprov– consideram que um estudante pode entrar nuniversidade sem jamais ter lido Dom Casmurro, de Machado de Assis, ou Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
Ao contrário do que vigoravnos vestibulares tradicionais das melhores universidades brasileiras, não há, no Enem, umseção específica de literatura. A rigor, tampouco existe línguportuguesa: as duas disciplinas estão diluídas, com línguestrangeire expressão corporal (sim, isso mesmo: expressão corporal), em um módulo chamado "Linguagens, códigos e suas tecnologias". Os catorze exames aplicados até hoje – a edição deste ano será realizadnos dias 22 e 23 –, sempre incluindo o fiasco dprovinvalidadde 2009, somam 1233 questões objetivas, das quais 164, nas contas dos pesquisadores dUFRGS, versam sobre literatura. Não serimau que, em umprova destinada a avaliar todos os conteúdos do ensino médio, cercde 13% das questões fossem dedicadas à culturliterária. Mas esse número inclui modalidades como histórias em quadrinhos e letras de canções populares, respectivamente segundo e sexto lugares entre os gêneros mais exigidos no Enem. Além disso, nmaior parte dessas questões, os textos literários (ou os quadrinhos) figuram apenas como ilustração parproblemas de outras disciplinas. UmtirinhdMafaldou um texto de Machado de Assis podem ser usados para avaliações de gramátic(se é que a palavra aindfaz sentido no meio das tais linguagens, códigos e tecnologias) ou parlevar o aluno a exercitar a mais básicinterpretação de texto. Textos literários também são utilizados para aferir conhecimentos de ciência, geografiou história. Um poemde Carlos Drummond de Andrade (o autor mais citado no exame) já foi usado parperguntar sobre problemas ambientais causados pelmineração. Em um dos casos mais pitorescos, um trecho do conto O Jardim dos Caminhos que Se Bifurcam, do argentino Jorge Luis Borges (um dos apenas cinco autores de línguestrangeirjá citados nprova), serviu de pretexto paruma questão sobre pontos cardeais.
No cômputo do estudo dUFRGS, apenas metade das questões que versam sobre textos literários é, de fato, sobre literatura. E apenas 20% exigem o conhecimento mais especializado que só uma aulde literaturpoderidar – por exemplo, noções de forme estilo ou de relação entre a obre seu contexto histórico (tópico que, no entanto, constnas declarações de intenção do Inep). "As questões sobre literatursão superficiais e a anódinas. Desprezam o conteúdo cultural, que deveriser o cerne de umprovsobre literatura", diz Luís Augusto Fischer, professor do Instituto de Letras dUFRGS e coordenador dpesquisa.
Sob a faltde critério dos avaliadores do Inep, há umdifuse demagógicpedagogia do vale-tudo. O pressuposto teórico é a valorização das variantes populares, dfale a desvalorização dnormculta, por seu suposto caráter elitiste preconceituoso. "Essa abordagem jogpor terra a ideide que há autores em cujobra a línguse realizou de formsuperior ou duradoura", diz Fischer. Ou seja, a noção de que um autor possser tomado como um clássico é tidcomo conservadora. No igualitarismo ignorante que se instaura a partir daí, não há mais nenhumdistinção de qualidade ou relevância, e o gato Garfield vale mais do que a poeside João Cabral de Melo Neto.
Tradicionalmente, o antigo vestibular tendia a enfatizar períodos e escolas literárias, às vezes em detrimento dleitura. Ermais importante saber que LimBarreto er"pré-modernista" (classificação genérice duvidosa) do que ler Triste Fim de Policarpo Quaresma. O Enem tinha a intenção de corrigir essdistorção. De fato, perguntas sobre períodos literários estão quase ausentes. O problemé que não se está perguntando nadno lugar. "impressão que tenho é que são amadores elaborando umprovdemasiado importante para o Brasil inteiro", diz Marcelo Frizon, um dos pesquisadores do estudo dUFRGS e professor de literaturem duas escolas de ensino médio em Porto Alegre. O mais preocupante é que o Enem tem o potencial de difundir o obscurantismo. Como vem substituindo o vestibular como portde entradpara a universidade, a provtende não apenas a avaliar, mas também a pautar o conteúdo dado nas escolas de ensino médio. "Esses exames costumam normatizar o que é ensinado em salde aula. Parser um pouco radical, se a coisa continuar assim, o ensino de literaturtende a desaparecer", diz a professorGabrielLuft, outrcolaboradordpesquisa. O Enem contribui parconstruir um país aindmais iletrado.

Desprezo pelo passado
O Enem põe um peso desproporcional sobre a literaturproduzida a partir do modernismo, desvalorizando a histórie a tradição. Das questões a respeito de literaturno exame, apenas 17% versam sobre obras anteriores a 1920. Autores fundamentais para a histórie paro desenvolvimento dlínguportuguesa, como o padre Antônio Vieira, José de Alencar e Euclides dCunha, não tiveram nenhum texto citado nprovdesde o seu início, em 1998.